Diana, a jornalista interpretada por Carolina Dieckmann em “Passione”, se despede da novela neste sábado. A escolha do autor Silvio de Abreu de livrar-se da mocinha no meio da trama dividiu os telespectadores. A manobra pode ser discutível, mas serve para alertar as mulheres sobre um mal silencioso que acomete uma parcela das gestantes. Diana vai morrer vítima da pouco conhecida Hellp Síndrome, a complicação mais grave da pré-eclâmpsia, também conhecida como doença hipertensiva específica da gravidez.
De acordo com Dênis José Nascimento, presidente da Comissão de Gestação de Alto Risco da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a Hellp Síndrome não é uma doença comum. Ela se apresenta em aproximadamente 10% das mulheres grávidas que sofrem de pré-eclâmpsia – na porcentagem geral, estima-se que o problema atinja de 0.2% a 0.6% das gestações. A Síndrome de fato apresenta risco de morte à mãe e ao bebê que está para nascer.
A denominação da Hellp Síndrome descreve seus três principais elementos: “H” para hemólise (quebra das hemácias), “EL” para elevação de enzimas hepáticas e “LP” para baixa contagem de plaquetas. “Estas complicações podem determinar gravíssimas consequências”, explica Nascimento. Os sintomas da doença não são percebidos facilmente – o que exige o dobro de atenção ao corpo. Eles se iniciam com aumento da pressão arterial, inchaço e perda de proteína na urina.
“À medida que a doença vai se agravando, a paciente pode começar a ter muitos outros problemas”, explica o médico. Problemas neurológicos como dor de cabeça e desorientação, dor de estômago, dor na região do fígado e eventualmente náuseas, vômitos e tonturas. “Tudo pode prenunciar a existência de uma crise convulsiva, então é necessário dar muita atenção ao problema”, completa.
Cura após o parto
Uma vez diagnosticada a doença, o que só ocorrerá através de uma série de exames de laboratório, é possível realizar um tratamento paliativo – que consistirá em repouso, tratamento da pressão arterial e de crises convulsivas. Mas a cura mesmo, só após o parto. Segundo Frederico Peret, obstetra especializado em gravidez de alto risco, de Belo Horizonte, não há como evitar o problema.
“Só quando a mulher engravida pela segunda vez é que é possível tomar algumas medidas para reduzir o risco”, afirma Peret. Ainda assim, pode-se tentar evitar que a doença dê as caras procurando saber se há uma condição de hipertensão crônica, além de estabelecer um estilo de vida saudável, com controle do peso e dieta adequada. Mas não para por aí.
Segundo Nascimento, os grupos com maior predisposição para a doença são mulheres com doenças crônicas que afetam o coração e o rim, além das pacientes com diabetes ou lúpus sistêmico. Como ainda não há como evitá-la de forma certeira, o especialista ressalta que a principal prevenção é um pré-natal bem assistido e de qualidade. “Não há uma prevenção primária da Hellp Síndrome, então se a doença for reconhecida precocemente, é preciso tomar medidas para que não evolua para um caminho mais grave”, explica.
Diagnóstico precoce
Mesmo fora dos fatores de risco, ainda é possível que o problema surja. E o diagnóstico precoce é realmente a melhor chance das gestantes que sofrem da Hellp Síndrome. “Se identificar o mais cedo possível e começar o acompanhamento médico, o risco de morte é significativamente reduzido”, afirma Peret. Segundo ele, a evolução da Hellp Síndrome é muito relativa e dependerá muito de cada caso. “Geralmente ela ocorre do meio para o final da gravidez, mas pode acontecer até aos três meses de gestação”, diz. O quadro de complicações pode tanto evoluir em horas, como semanas, meses ou dias. “O ideal, então, é preparar a paciente para o parto, mas dependerá de cada situação”, completa.
Fora o risco de morte, a principal complicação é o quanto os problemas decorrentes da Síndrome podem afetar o bebê – que provavelmente terá que nascer prematuro: “Na Hellp Síndrome a placenta não tem o desenvolvimento normal, não promove o desenvolvimento adequado para a criança e aumentam as chances de ela se descolar do útero, o que é muito grave”. Com o problema superado, ainda é possível que a mãe sofra algumas consequências depois, em longo prazo. “Aquela mulher que teve hipertensão na gravidez tem uma chance maior de desenvolver doenças cardíacas, hipertensão arterial e acidente vascular cerebral (AVC) no futuro”, completa.
Embora seja uma doença ainda pouco conhecida do público, com causas e processos nebulosos mesmo para a Ciência e para os médicos, o reconhecimento da Hellp Síndrome está ficando cada vez mais sólido – ainda que não se saibam as razões do seu desenvolvimento. Frederico Peret conta que, atualmente, estão sendo estabelecidos exames específicos para determinar as mulheres que possuem maior ou menor chance de desenvolver o problema. “Infelizmente, isso ainda não fecha a questão”, admite. Mas estão chegando perto.
Fonte: IG
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